CARTA AO MEU AMIGO DILSON

Que pena que suas férias não foram como você pensou. Como diria o Capitão Nascimento: "-Nunca serão!".
Acontece que Ipiaú não mudou o que deveria. Inchou ao invés de crescer. Hoje, circulam por lá inúmeras caminhonetes, ao invés de velhos corcéis. Mas as ruas ainda são as mesmas. Com aquelas pedrinhas, aqueles buracos e aqueles "murundus" que chamam de quebra-molas, que são colocados em qualquer rua, de qualquer maneira, à revelia do poder público. Alguns acham que ipiaú ganhou cara de cidade só porque tem um asfalto cobrindo o percurso natural da BR-330. Pois é: as cabeças ainda são tão provincianas quanto antigamente!
O pior, é que os bares que gostamos, na maioria, nem existem mais. Salve! Salve! Dedéu. Esse é um verdadeiro "highlander". Eu sei, eu sei: Carlinhos e Valtemir ainda continuam lá. Mas, onde está a cabana Beira Rio? O Rancho Alegre virou Chalé Suiço. Mudou pra melhor. Mas já não podemos tomar banho no Rio de Contas e ficar sem camisa no bar. Às vezes as mudanças pra melhor também são um saco! Pra você ter uma idéia, até o Rio de Contas virou de vez Rio "das" Contas. Mesmo que alguns o chamem (com razão) de "esgoto", permanecerei chamando-o de Rio "de" Contas. Foda-se!
Amigos... A maioria fez como eu: casou e saiu da cidade. Claro que alguns ficaram. Alguns até solteiros. Mas, como você viu, ainda assim fica difícil de encontrá-los. Você passou mais ou menos 10 dias na cidade e quase não encontrou ninguém. Alguns, tornaram-se religiosos (graças a Deus!), como o Júnior, o que invalida sua expectativa de beber cerveja com o cara. Mas ele é o mesmo brincalhão, a despeito das dificuldades que enfrenta. Mas, pra você ter uma idéia, eu nem sabia que Luzia tinha ido embora de Ipiaú. Onde será que Luzia foi dar?
Que bom que temos boas famílias. Fazem valer a pena ir a Ipiaú. E, pra minha sorte, tem uns elementos entrando na minha família que são gente fina. Um tal de Vaguinho, por exemplo. (risos)
Infelizmente, cara, sempre teremos expectativas incríveis ao visitar Ipiaú. Expectativas que sempre são destruídas quando lá chegamos. Como sempre, são as pessoas quem fazem tudo valer a pena. A pena é que muitas dessas pessoas não estão lá da mesma forma de quando éramos adolescentes.
Mas, nosso amor pela cidade nos faz sempre recriar essa expectativa e sempre voltar a visitá-la. Como eu disse, ainda vale a pena visitá-la e sempre vai valer. Mesmo que não tenha mais como encher o saco de Luzia. Mesmo que não tenha mais como ouvir legião urbana num micro system instalado em uma tomada esquecida pela prefeitura na Praça do Cinquentenário. Mesmo que Júnior e Neto frequentem igrejas e não bares. Mesmo que tenhamos que subir 10 Km pra poder tomar banho no Rio de Contas e sem ter um bar pra beber cerveja às margens do rio. Mesmo que não possamos mais caminhar de madrugada voltando do Crystal Drinks.
Ipiaú ainda tem seus encantos pra quem a ama. Por isso, venha de novo. A gente fica frustrado, mas não arrependido...