Iron Man? Forrest Gump? Porra Nenhuma!

Conforme prometido: uma estória sobre a escola agrícola...

13 de junho de 1993 era um sábado. Meu aniversário...
Eu estudava na famosa "Escola Agrotécnica Chico Mendes de Ipiaú".
Inventaram uma moda lá de "plantão".
Resumindo: escravizar os alunos mais uma vez...
Bem, eu nunca fui um aluno "atentado", "bagunceiro", nada desse tipo.
Quem me conhece sabe... (haushuahsuahushuas)
E, bem no dia do meu aniversário, inventaram essa de que eu deveria estar lá no plantão. Obviamente fiquei muito feliz com essa "escalação".
Deu tudo certo no plantão: cheguei às 7 da manhã, mesmo sem ter o ônibus pra me levar lá no horário, fui com minha bota e o facão do lado, varri toda a oficina que estava infestada de lixo da festa da noite anterior (festa de Santo Antônio - nasci no dia dele - mas a festa era pra arrecadar grana pra nossa formatura, não era porque alguém se lembrou de mim não - na escola, claro), mas, o rebanho bovino solto por lá desfez todo meu trabalho.
Bem, as coisas continuavam dando certo... não apareceu ninguém. Só eu na escola... aí pensei: foda-se! fico aki até as 10 horas e caio fora.
Bem, às 10 horas, a pick-up da escola apareceu por lá com aqueles que supostamente deveriam estar lá desde as 7.
Ganhei algumas ordens, fiquei mais feliz ainda...
E, logo chegaram mais algumas pessoas... colegas... e eles me olhavam de modo estranho...
Como era tradição jogar os aniversariantes do dia na esterqueira (um tanque lotado de bosta de boi e minhocas transformando esse banquete em húmus - e daí que eu digitei "bosta"? O Chico Buarque não colocou essa mesma palavra numa música famosa dele? ah, vai te catar!), fiquei achando muito estranho todo aquele movimento, aqueles subterfúgios de um povo tão "abusado".
Aí lembrei: é meu aniversário! "Tô fudido!"
Arrumei uma desculpa pra ir até o prédio da escola e corri (com bota e facão) aquele 1 Km que liga o prédio da escolá até a BR-330. Alguém percebeu, claro. Foi o vaqueiro, vulgo "Cagado", que tentou me acompanhar com a mulinha dele e num deu conta.
Quando eu já estava iniciando o meu 2º Km, percebi que os caras estavam vindo correndo pra me pegar, aí comecei a correr com pavor. Quando eu já subia a ladeira que fica a mais alguns Km a frente, percebi que o povo desistiu de correr atrás de mim, aí comecei a reduzir o galope, pois, com medo, pode ter certeza que a gente corre com bota, facão, calça jeans e num tem quem pegue!
Como o que é bom dura pouco, vi aquela "ruma" de bicho doido, em cima de uma caçamba que entregava o lixo um pouco mais adiante da escola, passando por mim. Eles pegaram carona na caçamba do lixo pra me pegar! Pense na vingança deles!!
Mas o motorista não quis parar a caçamba no início da ladeira, só quis parar onde a ladeira começava a apontar pra baixo. Com essa vantagem, entrei por um caminho de roça, percebi que algum cachorro "pensou em latir e me perseguir", mas calculou que, pelo medo com o qual eu corria, era melhor ele correr também. Cachorro esperto!
Aí o caminho de roça acabou, cheguei ao rio, nem pensei que estava me jogando nele de bota, facão e calça jeans. Atravessei o rio numa velocidade que nem caganeira atinge. Continuei minha prova de Iron Man por uma estrada de terra, em direção a Ipiaú. meu percurso que acabaria em 3,5 Km acabara de aumentar mais 1,5.
Corri sem ver meus captores, mas sabendo do que se tratava, mantive a marcha. Cheguei à ponte que liga Itagibá a Ipiaú (isso mesmo: eu vim por aquela estrada - pra quem sabe do que falo. Pra quem não sabe, é isso mesmo: vim por outra cidade pra escapar do tanque de esterco!), atravessei ainda correndo, passei por uma rua que fica entre o rio e o centro comercial de Ipiaú a passos largos, continuei pela praça do Rotary, passei pela frente do fórum e cheguei, enfim à minha rua. Mas, primeiro, pra não morrer na praia (é, tenha certeza: eles eram capazes de tudo, sobretudo depois da carona na caçamba do lixo), fiquei de longe observando se não havia algum deles por perto.
Demorei muito observando, com medo, mas, não estavam lá. Na verdade, a essas alturas, nem o sol estava mais no céu. E, finalmente, entrei em casa, cansado, mais destruído do que o lobo depois que o patins a jato da compania ACME explode antes que ele possa perseguir o papa-léguas.
Mas foi bom, meu pai me deu uma grana. Fui à festa de Santo Antônio comemorar meu aniversário sabe onde? Lá no Japomerim, distrito de Itagibá, que é onde fica justamente aquela ponte.
Foi nesse dia que começei a beber cerveja inveteradamente. E ainda tive a satisfação de não ter deixado ninguém transformar meu aniversário numa merda!
Mas eu não sabia das loucuras que ainda aconteceriam nessa mesma noite. Mas essa é outra estória...